Data de postagem: Jun 03, 2018 10:30:35 PM
Pedi calma ao irmão vento
Moderação na corrida
Pois sua velocidade
Por vezes destrói vidas
Ninguém o impede de andar
Com calma ele alcançará
Sua meta pretendida
No rastro da sua passagem
Seu corpo embora gasoso
É combinação atômica
Movimento poderoso
Árvores são arrancadas
Pessoas ameaçadas
Plantações são dizimadas
Por furacões tenebrosos
A resposta capitei
Como vinda do astral
– Sou força da natureza
Agir assim é fatal
Não conheço sentimento
Sou apenas movimento
Não distingo o bem do mal
Eu sou cego no seu plano
Não entendo o que diz
Não percebo o que lamenta
O que fiz e como fiz
Eu não tenho consciência
Nem da minha existência
Não sou infeliz nem feliz
Quando passo devagar
Eu sou brisa carinhosa
Penteando o capinzal
Tal cabeleira formosa
É festa na natureza
Sou encanto, sou beleza
Sou uma caricia gostosa
Após, encontrei uma planta
Cheia de folhas e espinhos
Invadindo todo o espaço
Sufocando seus vizinhos
Questionei-a por que?
Só cuida do seu viver?
Só interessa o seu querer?
Só importa o seu caminho?
– Pensas que sou malvada
Egoísta ou coisa assim?
Gritou ela com firmeza
Se dirigindo a mim
Esta vida é uma guerra
Quem não defende sua terra
Nem começa, chega ao fim
Para não ser sufocada
Eu procuro sufocar
Os espinhos me protegem
Do animal me pisar
O que parece rudeza
Em verdade é defesa
Pra vida continuar
No meu nível é assim
Civilidade é fraqueza
Sobrevive o mais forte
Lançando mão da dureza
Não há sensibilidade
Nem bondade nem maldade
Nem alegria ou tristeza
Cumpro assim minha função
Na ordem do Criador
Não me podes pedir mais
Nem ódio e nem amor
Este é o meu estágio
Aqui vale o adágio:
Quem manda é o vencedor
Encontrei um animal
Que espreitava sua presa
Perguntei se aquela vida
Não lhe causava tristeza
Por que tanta violência?
Tenha um pouco de clemência
Aplaque sua dureza
Sois superior às plantas
Podes correr e voar
Possuis olhos e ouvidos
Tens olfato pra cheirar
Importantes atributos
Já não sois tão involuto
Já podes se abrandar
Replicou com segurança
O meu interpelado
Eu vivo mecanicamente
Não sou certo nem errado
Não sou livre pra agir
Sou obrigado a cumprir
As leis do meu estado
Precisas compreender
Que nós os animais
Ainda estamos distantes
Dos seus progressos morais
Dos princípios e das normas
Da essência e das formas
Das leis espirituais
Seguimos nossos instintos
E nisto não há pecado
Vivemos no nosso plano
Nele nós somos cerrados
Não há o que escolher
Nem o que compreender
É seguir resignados
Este é o nosso nível
Mecanicamente vivemos
Como sermos diferentes?
Se ainda não aprendemos
Não é bom nem é ruim
Nos cabe viver assim:
Procriamos e comemos
O caminho é infinito
Já estamos a andar
Não existe outra escolha
Que não seja caminhar
Já andamos bom pedaço
Ainda que sob cansaço
Nós não podemos parar
Em seguida me voltei
Para um meu semelhante
A caminho da evolução
Lutando pra ir avante
Tem em si o animal
O vento e o vegetal
Porém, num plano adiante
Perguntei por que tu cais?
Respondeu sou imperfeito
Já escolho como agir
Se deste ou daquele jeito
Deus me deu a liberdade
Junto a responsabilidade
Respondo pelos meus feitos
Sou livre pra semear
Mas obrigado a colher
Seguir a Lei de Deus
É meu rumo, meu dever
Já não sou um cego instrumento
Só me chega sofrimento
Se eu não saber viver
A Lei existe pra todos
E o homem a conhece
Viver baseado nela
Tudo nos favorece
Como ser espiritual
Aprimorando a moral
A evolução acontece
Fortalecer o espírito
Para praticar o bem
Dar as mãos ao semelhante
Sem buscar saber a quem
Ter fé e boa vontade
Sabendo que em verdade
De Deus todo amor provém
Entre fadigas e lutas
A vida é muito dura
Somente o Evangelho
De Cristo em sua doçura
Nos orienta e conduz
É onde encontramos luz
Pra caminhada segura
É caminhada infinita
Um eterno vir a ser
E quanto mais aprendemos
Mais temos a aprender
Apenas Deus é perfeito
Nós temos graves defeitos
Muito a desenvolver
Depois, encontrei um anjo
Um ser bem aventurado
– Você progrediu muito
Já está mais avançado
Se avizinha do Senhor
Respira no grande amor
Já vive despreocupado
Respondeu-me docemente
– Já não preciso lutar
Eu sou um canal de amor
Que vive a trabalhar
Incansável operário
Em trabalho necessário
Pra a humanidade avançar
Na esfera onde vivo
Não há ociosidade
Trabalhar é grande mérito
É colher felicidade
De Deus eu sou instrumento
Aplacar seu sofrimento
É a minha atividade
Aqui fervilha o trabalho
Aí se agita o mal
Aqui amar ao próximo
É postura natural
Aí é outro cenário
Faz-se tudo ao contrário
Ser egoísta é o normal
Então, me dirigi a Deus
– Amado e eterno Senhor
Com meu coração em prece
A Ti toda honra e louvor
Te peço sempre viver
No seio do teu Ser
Na glória do teu amor
Vi todas formas de ser
Enquanto eu assim orava
Vislumbrei as criaturas
Que Deus hierarquizava
Desde o átomo até o anjo
O adormecido despertava
Cada um no seu lugar
Na obra da criação
Hierarquicamente dispostos
Pelo grau de evolução
As Leis de Deus atuando
A voz da vida falando
E todos vão avançando
Galgando mais posição
Então pude compreender
Como é composto o universo
Nós somos células de Deus
E nele estamos imersos
Compomos seu organismo
Regidos pelo monismo
Nos seus espaços diversos
▬ Antonio Borges