Data de postagem: Jun 03, 2018 10:22:34 PM
O que nos revela a ciência no que se refere aos conteúdos e eventos psicológicos, é uma pequena parte, uma ilha que emerge de um continente submerso. Ela observa e atua apenas no campo dos efeitos, mas escapam-lhe as causas, que estão no passado. Ela não sabe o que é a vida porque não conhece o essencial, que para cada coisa, para todas as formas do ser, é o espírito. A ciência pára no corpo, mas como pode compreendê-lo se não conhece o espírito que o anima? Esse corpo, em princípio, é uma célula. Ele cresce. Quem o faz crescer, e por que o faz só até certo ponto? Do primeiro núcleo, desenvolve-se, por contínua subdivisão e multiplicação de células, um aglomerado em contínuo aumento, sem que apareça o motor genético dele. Parece um caos amorfo. Mas eis que, em certo momento, começa a delinear-se uma diferenciação na estrutura das células produzidas, uma disciplina que dirige esta milagrosa multiplicação. Cada célula obedece a diretivas precisas, e pararão em grupos em certas zonas, para começar a construir certos órgãos ou tecidos: o cérebro, o olho, o coração, os ossos etc. Deste maravilhoso e inteligente trabalho nasce o milagre do organismo único, em que, por fim, se coordenam os resultados de todos os trabalhos parciais, em plena eficiência de funcionamento orgânico. Em lugar da primeira desordem, é então entoada uma como orquestração sinfônica, em que cada instrumento executa, em harmonia com todos os outros, a sua parte, segundo a lógica de um plano geral que rege tudo.
Ora, um trabalho tão sábio, não pode ser produto do acaso, tanto mais que ele se reproduz exata e regularmente para cada ser que vem nascer na Terra. Quem os dirige, pois? Não é suficiente a ação dos hormônios para explicar tudo isso. Mais do que a causa última das especializações, representam eles antes as alavancas de comando, que fazem disparar um mecanismo já preexistente. Eles não bastam para dar-nos a formação dos órgãos, mas apenas podem acionar alguns mecanismos que levam a esse resultado. Há, portanto, independente deles uma força diretriz inteligente que, segundo um seu plano ou esquema preestabelecido, produz isso tudo. A morfogênese, ou seja, a origem das formas, mediante a qual a vida assume seus modelos predeterminados, depende pois de esquemas preexistentes no mundo espiritual, sem o que essa morfogênese não se explica.
Acontece então que, enquanto o feto cresce e se define em suas várias partes, se é a inteligência celular que provê a multiplicação do material, e se é o incônscio materno que a dirige e que preside ao funcionamento elementar mecânico como um prolongamento do próprio, quem dirige a diferenciação em vários tipos de tecidos e a guia à formação dos vários órgãos, preparando seu funcionamento, independente do da mãe, é unicamente a inteligência do eu humano que se apresenta para a nova reencarnação. Assim, a determinação do sexo, é feita pelo espírito, conforme ele, dadas as suas qualidades, ache mais adequado para si viver num corpo masculino ou num feminino.
É assim que este se fabrica, sob sua própria direção, como um seu casulo; corpo do qual o espírito vai tomando posse gradativamente, numa espécie de temporária colaboração com a mãe; corpo em que ele descerá definitivamente, tomando posse independente e destacando-se da colaboração materna. Então o corpo pertencerá todo e exclusivamente ao novo eu que se encarnou e, como o corpo foi formado à imagem e semelhança daquele eu que o plasmou, assim também continuará a desenvolver-se sob sua contínua influência diretriz, para tornar-se cada vez mais sua própria forma, isto é, sua mais exata manifestação exterior no plano da matéria.
Nesta sua forma física, pois, nosso eu se encontra sem recordar. Tudo se passou na zona dos automatismos conquistados pela repetição muito longa e abandonados ao subconsciente. Acima destes, a grande lei estabelece os ritmos maiores. Segundo esses ritmos, o eu vem depois, no fim da vida, executar o processo inverso, e quando o organismo que se construiu se estraga, o espírito desprende-se dele, desencarnando. Logo que este falta, e cessa a sua ação diretriz, aquele organismo, abandonado a si mesmo, se desagrega. Achamo-nos assim donos de um corpo temporariamente, e no fim despojados dele. Ele é tomado como empréstimo à terra, à qual devemos restituí-lo no fim, constituído de um material comum, que é de todos, e que nós mesmos, amanhã, poderemos tomar de novo por empréstimo, para uma nova reencarnação. Só o espírito é individualmente nosso. A ciência não nos dá nenhuma explicação desse jogo. Só a teoria da reencarnação faz dele um processo lógico, dando-lhe um significado profundo e uma meta final.
Por essa estrada poderá chegar à descoberta científica da alma, de uma alma que demonstra saber viver mesmo sem corpo, além de saber viver na forma que todos conhecemos, em sua vida unida ao corpo. Ver-se-á, então, que a alma não é uma abstração filosófica, teológica, metafísica, mas que é uma realidade objetiva com a qual a medicina, à proporção que se aprofunda, terá fatalmente que encontrar-se e que contar com ela. Só sendo assim compreendida, poderá a alma reentrar no âmbito dominado pelos métodos da ciência médica. A observação anatômica dos corpos mortos não é suficiente. Trata-se aqui do fenômeno vida, de que a anatomia é apenas a casca e a consequência.
▬ Antonio Borges